Na última quarta-feira (27), foi divulgado através do site oficial da renomada revista norte-americana “Billboard“, uma extensa matéria sobre as comparações com Ariana Grande e a veterana Mariah Carey. Confira o artigo traduzido e adaptado pela nossa equipe:
“É hora de pararem de comparar Ariana Grande com Mariah Carey” – ENFATIZA BILLBOARD.
A começar da ascensão de Ariana Grande com o seu single de estreia “The Way”, ela vem atuando a sombra de um titã: Mariah Carey. O álbum que a lançou, “Yours Truly”, liderou nos charts em 2013, e arrancava páginas do livro de Carey: a tendência pelo R&B que se difundi no reino Pop; uma inocência superficial contraposta por uma inclinação a sensualidade; o emprego do hip-hop em suas canções; e, sem dúvidas, os “tons de apito” (whistle tones). Ah, os tons de apito.
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Ainda que Mimi não tenha declarado nada a respeito, essas foram semelhanças obvias. Quando indagada sobre a atribuição dos críticos a Ariana como “uma versão mais jovem da Mariah”, Mimi fora subjetiva em uma resposta que soou como uma indireta, mas generalizou todos os novos artistas. “Antes de tudo, eu sou jovem ainda, eu desprezo números. Parei de contar aos dezessete, numericamente falando”, afirmou ela ao The Breakfast Club da Power 105.1, em fevereiro. “Porém eu desejo a todos grandes êxitos no que fazem, e se esta é a carreira que escolheram para si, espero que conquistem longevidade”.
Ser comparada a Mariah Carey nunca seria algo ruim – afinal, tanto o seu talento como o seu sucesso profissional são ambos imensos. Ela estabeleceu uma carreira de mais de vinte anos, apoderando-se de 18 números 1# na Billboard Hot 100, com os seus singles. E também é a representante feminina que mais vendeu desde o início da era Nielsen SoundScan, que começou em 1991, tendo 54 milhões de álbuns vendidos. Mas essa é uma comparação que tem mais a dizer sobre influências do que sobre a autenticidade como um artista singular. Ser nomeada a miniatura de uma musicista que por décadas vem demonstrando o seu conceito, pressupõe a ideia de que se esteja copiando o passado, e esperando que o tempo tenha ofuscado aquela a quem se teve como modelo. Ninguém quer ser conhecida como uma garota assim.
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Todavia surgiu o “My Everything”, lançado em 25 de agosto, onde sobretudo, Ariana põe fim nessa comparação. Este (“My Everything”), é um álbum dos tempos, que convenientemente peregrina pelos gêneros musicais, e se desenvolve neles. Credite essa diversidade musical a eclética equipe que a constitui, compreendendo desde os gigantes da música, tais como Max Martin e Ryan Tedder, até os iniciantes no ramo, como Cashmere Cat e The Weeknd, artistas que Mariah nunca avocou em seus projetos (embora não seja certo que Mariah o conheça, mas até mesmo o Harry Stiles se encontra entre os creditados). Com esses fatores, adicione a divergência de Ariana Grande frente as técnicas vocais – voz de cabeça (head voice), enunciação – que caracterizaram Mariah Carey ao decorrer dos anos. E o que se tem é que Mariah não é Ariana, e Ariana já não mais é a Mariah.
Inicialmente, vários eram os itens que os análogos utilizavam como referência, e uma considerável parte desse literal gráfico de pizza se devia aos tons de apito, que dera aos críticos liberdade para fazerem as suas associações. Notável por sua exótica personalidade, não tão incomum quanto as suas excepcionais qualidades vocais avaliadas em oitavas, Mariah as emprega no final de suas músicas para evidenciar de alguma forma conclusões entusiastas. Um método que remete a “Someday” e “Anytime You Need a Friend” e conservasse ao longo das décadas, recebendo proeminência recentemente em Me… I Am Mariah, “Make It Look Good”.
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Essa direta influência sobre Ariana se mostra desde o início de sua carreira até a gravação – tenha o seu cover de “Emotions”, em 2012, como base – de “Yours Truly”, revelando-se em singles como “The Way” e “Baby I”. No entanto, “My Everything” anda longe dos sopros de flageolet (registro de flauta), e ao invés, traz os seus vocais em um tratamento mais profundo, grave, restringido em especial para o Pop. Nele, esses adereços surgem com não muita ênfase, como nos momentos dispostos em adlibs (à vontade, sem obrigatoriedade de serem executadas), em “Break Free” e “Be My Baby”, mas estão próximos de serem recessivos no álbum. Essa é uma atitude que afasta Ariana de sua precedente, algo que Mariah de fato nunca faria. Em um grau completamente técnico, é uma abordagem que gera uma Ariana mais viável aos seus ouvintes. A sua música não apenas pode ser desfrutada por você, como pode ser também cantada, algo que ocasionalmente é o caso de Mariah. Segundo o tradicional padrão da indústria, muitas vezes, o single mais simples é o mais qualificado, e é nesse atributo que ela se apega em “My Everything”.
Mesmo com o “My Everything” tendo ótimas música, visivelmente ele apresenta uma carência de foco. No qual “Yours Truly”, em um padrão mais Pop fitado no R&B, se condensava, “My Everything” é um cobertor em retalhos que se alterna entre gêneros, presumivelmente favorecendo-se da variedade de público num empreendimento de experimentação. Ela flerta com a música eletrônica dance (“Break Free”, “One Last Time”), traz vislumbres do Hip-Hop (Diana Ross em “Break Your Heart Right Back,” The Sylvers, faixa bônus da Target “Cadillac Song”) e submerge de igual forma ao Glee em porcaria, quando se é necessária uma balada evocativa (“Why Try,” “Just a Little Bit of Your Heart”). O que concretamente suprimi o equilíbrio alcançado em “Yours Truly”, e que pode ser eventualmente um subproduto provido da retração de Babyface e Harmony Samuels, da sua concepção criativa. Em “My Everything” as canções estão isoladas, destinadas a serem bem sucedidas – afinal, estamos vivendo a era do iTunes.
Mariah não faria isso. Ainda que com apenas dois álbuns de Ariana para se fazer uma comparação (ressalva ao EP de natal e os samples do 4 Non-Blondes em “Put Your Hearts Up”, que o Spotify não deixará que se esqueça no tempo) Mariah se mostra uma melhor visionária. Claramente ela considera a soma maior do que as suas partes, trabalhando muitas vezes com os mesmos personagens de seu elenco. Seu mais recente trabalho, “Me. I Am Mariah… The Elusive Chanteuse”, propõe o autoconhecimento correspondente a meia idade, com um repertório conveniente a isso. É colorido e detém uma leve paleta de Motown com uma pitada de Adult Contemporary, contudo, é enraizado no agradável R&B. É uma reflexão das escolhas já feitas em sua carreira: Mariah sempre se manteve fiel ao hábito de aproveitar um álbum inteiro para explorar uma determinada sonoridade. “Butterfly”, traz um R&B libertino, por exemplo, “Rainbow” uma harmonia entre o Pop e o R&B, “Music Box” uma recorrência as baladas da Disney, e a utilização do Dance Pop. Podendo estar em até 50 diferentes tons, cada um deles se manteve leal a um estilo.
A música de Ariana agora é tão versátil, que ela poderia ter percorrido várias diferentes direções ao mesmo tempo, e ela o fez. Mariah nunca o faria, ainda que pudesse. Com isso há vantagens, como também há desvantagens. “My Everything” está a caminho de ser outra estreia de Grande em 1#, e já gerou dois hits. Estreando em 3#, “Me… I Am Mariah”, de Mariah Carey, desde 1991, fora o que apresentou o menor índice de vendas em sua semana de lançamento para um álbum não natalino seu, sendo que dos quatro singles do álbum, um deles alcançou o 15# na Billboard Hot 100, “Beautiful”. Sonoramente, Ariana abrange todos os tipos de músicas que fizeram sucesso na parada. Mariah? Nem tanto.
O que resta então? “Too Close”, uma das faixas bônus da Target, que soa como uma reminiscência a “I’ve Been Thinking About You”? É claro. E a questão de elas trabalharem com artistas de hip-hop? Ouça Britney Spears, e algumas das músicas do portfólio de Christina Aguilera, e você se defrontará com similaridades. Canções de natal? Observe: quase todas fazem. Mas o que você realmente estará dizendo quando chamar Ariana de “mini-Mariah”, será que ela é uma cantora deveras talentosa e com uma magnífica voz (e com muito menos dicção), do mesmo modo que algumas semelhanças se apagam com o tempo. Efetivamente, “My Everything” quase que encerra essa discussão por inteiro, distanciando Grande da Mariahosfera – até um novo aviso.
Fonte: Billboard